domingo, 29 de setembro de 2013

Grupo transmite suposta aparição da Virgem Maria ao vivo pela internet.

Em convite que chegou à imprensa nesta semana anunciava a aparição da Virgem Maria, mãe de Jesus para um trio de videntes na Colina das Aparições, localizada em Carmo da Cachoeira (MG). As cerimônias, que acontecem desde 2011 para uma 














ordem de monges iniciada no Uruguai, são abertas ao público e também transmitidas ao vivo pela internet para o mundo todo. Na pequena cidade do Sul de Minas, as aparições supostamente acontecem na Comunidade Mariana da Figueira, onde um grupo religioso independente, que não é ligado à Igreja Católica, se propõe a viver para Deus e levar a mensagem de Maria para todas as partes do mundo. O G1 acompanhou a cerimônia para tentar entender o que faz o grupo e fiéis acreditarem que a Virgem Maria realmente faz suas aparições naquele local.


No dia da suposta aparição, somos recebidos pelo porta-voz da Ordem Graça e Misericórdia, apresentado como Frei Shuamanim, e a assessora de imprensa da Fraternidade – Federação Humanitária Internacional, Regina Celli Prata, em uma grande e arborizada construção no Centro da cidade. “Há vários meios de servir a sociedade e a oração é uma delas”, explica o frei Shuamanim sobre o trabalho do grupo de peregrinos de Maria.
Carmo da Cachoeira, com pouco mais de 11 mil habitantes (segundo Censo IBGE de 2010), é conhecida por sediar a Comunidade Figueira, fundada em 1987 pelo filósofo, escritor e palestrante José Trigueirinho Netto, autor de mais de 70 livros que falam sobre espiritualidade. Até o final de 2011, o lugar apenas recepcionava aqueles que buscavam viver dedicados à meditação espiritual e o serviço comunitário.  “Há dois anos, Maria anunciou que faria sua primeira aparição pública no Brasil e que esta seria no que chamou de Centro Mariano Figueira, aqui em Carmo da Cachoeira”, conta o Frei Shuamanim sobre como a ordem de monges estabeleceu esse vínculo com a comunidade.
Segundo explica o frei, Maria se manifesta para três videntes, dois uruguaios e uma brasileira, que pertencem à Ordem Graça e Misericórdia. Eles teriam contato direto e quase cotidiano com a santa, que transmite mensagens para a comunidade durante as aparições e individualmente para cada vidente. Todas são publicadas na internet, no site da “Associação Maria, Mãe da Divina Concepção”, para que todos tenham acesso. Shuamanim compara as aparições da Figueira com as já conhecidas aparições de Maria em Fátima (Portugal), para os três pastorinhos, e principalmente às que acontecem em Medjugorje, no Sul da Bósnia-Herzegovina, para seis videntes desde 1981.
Imagem de Maria representa um período de transição, para monges (Foto: Samantha Silva / G1)Imagem de Maria representaria um período de
transição (Foto: Samantha Silva / G1)
“Ela se apresentou para nós como Maria, Mãe da Divina Concepção da Trindade, e diz ser a mesma de Nazaré, mãe de Jesus. Ela nos pede para que a mensagem dela seja difundida, que usemos as comunicações. Assim, todo o meio que a gente encontra para difundir a mensagem, a gente usa”, diz o frei, explicando as transmissões pela internet das aparições. Segundo a equipe de monges que acompanha os videntes, as aparições são transmitidas para 77 países. O site tem cerca de 50 mil acessos por mês. Nos dias de aparições, o número de pessoas acessando a página varia de 4 mil a 100 mil acessos no momento da cerimônia.
A ordem de monges à qual os videntes fazem parte não é ligada à Igreja Católica e eles se definem como ecumênicos. Para o frei Shuamanim, esta é a forma que eles encontraram de poder receber a todos de forma neutra. “Nosso vínculo com a Igreja Católica é muito fraterno, nós colaboramos mutuamente no trabalho com a comunidade, no trabalho de oração, temos católicos que participam do grupo. Mas para que possamos servir a todos, não nos vinculamos a nenhuma religião, assim podemos receber todos os filhos de Maria.”
Assim como a ordem não é vinculada à Igreja Católica, as aparições de Maria aos três videntes também não é reconhecida peloVaticano. Em Vitória (ES), onde aconteceu a suposta última aparição de Maria, a arquidiocese do município chegou a orientar que os católicos não deviam comparecer ao evento. “Nós respeitamos o posicionamento deles, é legítimo, eles estão estudando e nos observando, e estão protegendo os fiéis deles, porque a gente sabe que existe todo tipo de coisa hoje em dia. Então a gente se posiciona de forma neutra”, disse o frei Shuamanim.
As aparições públicas que acontecem na Bósnia, tomadas como principal referência de semelhança com as da Figueira, também não são reconhecidas pelo Vaticano. Em julho de 2009, o Papa Bento XVI chegou a afastar do sacerdócio o padre Tomislav Vlasic por ter promovido o que chamou de falsas aparições marianas em Medjugorje. Desde que Nossa Senhora supostamente apareceu nos arredores de Medjugorje, a aldeia recebe milhões de peregrinos. Os videntes afirmam que a Virgem já apareceu mais 40 mil vezes em cerca de 30 anos na Bósnia.
Frei Shuamanim disse ainda que eles não entraram com nenhum pedido para que o Vaticano reconhecesse as aparições na Comunidade Figueira. “Essas coisas espirituais não devem se mesclar com coisas ‘judiciais’”, completou. “Existem instituições importantíssimas pra sustentar a religião e cada grupo se afirma de uma forma. Nós, como grupo ecumênico, cumprimos uma outra função dentro desse todo. Mas, entende que não tem separação? A gente tem como princípio que temos que buscar o que nos une, e o que nos une é o amor, o Cristo, a fraternidade, o serviço, e todos nós estamos nisso”, finaliza.
Peregrinos fazem caminho até a Colina das Aparições, em MG (Foto: Samantha Silva / G1)Peregrinos fazem caminho até a Colina das Aparições, em MG (Foto: Samantha Silva / G1)
Cerimônia de aparição
Após cerca de 6 km por uma estrada de terra, chegamos à Comunidade Mariana de Figueira na zona rural de Carmo da Cachoeira. Uma imagem da Virgem Maria dá as boas vindas aos visitantes no portão de entrada. O lugar é um conglomerado de dormitórios e áreas comuns elevadas em arquitetura simples, de cores neutras. Regina mostra onde são produzidos os alimentos à base de leite de soja, como queijo tofu. A alimentação na comunidade é vegetariana, não há consumo de bebidas alcoólicas ou outras substâncias consideradas "prejudiciais" ao organismo e a organização, sem fins lucrativos, sobrevive de doações. Para as expedições de aparições, são divulgados os valores necessários para a viagem no site da associação e a conta para doação dos peregrinos.
Na comunidade, vivem cerca de 150 pessoas, mas contando o fluxo de peregrinos que são recebidos para retiros ou passagens por poucos dias, o número de pessoas no local é de cerca de 400 pessoas, explica Regina. A tranquilidade e o silêncio no lugar chama a atenção. No banheiro (que é dividido entre os dormitórios mais próximos), um anúncio indica que a descarga não deve ser acionada entre 21h30 e 4h30 para não atrapalhar o descanso e o silêncio no local.
Monges se reúnem na Comunidade da Figueira para iniciar a procissão (Foto: Samantha Silva / G1)Monges se reúnem na Comunidade da Figueira
para iniciar a procissão (Foto: Samantha Silva / G1)
Na quarta-feira, dia 25 de setembro, o grupo de fiéis se reuniu em procissão, por volta de 17h30, para iniciar a caminhada até a Colina das Aparições. Os peregrinos são guiados pelos monges da Ordem Graça e Misericórdia, que também carregam o estandarte de Maria. “Devem ter umas 500 pessoas aqui”, calcula a assessora Regina. “Dia de semana costuma vir menos gente. Quando as aparições acontecem nos fins de semana, geralmente vem cerca de mil pessoas para acompanhar a cerimônia.”
Segundo os coordenadores, há pessoas da cidade, algumas de várias partes do Brasil e outras até de outros países, como Uruguai e Argentina. No estacionamento da comunidade, a maioria dos veículos são de cidades mineiras, como Formiga (MG) e Belo Horizonte (MG), e alguns do estado de São Paulo, comoBatatais (SP). Os coordenadores dizem ainda que alguns peregrinos acompanham os videntes por todos os lugares onde as aparições são agendadas no Brasil, no Uruguai, e agora na Argentina, onde será instalado o terceiro templo da ordem de monges.
O percurso até a colina é feito em silêncio, interrompido apenas por alguns peregrinos que repetem o nome da Virgem Maria em uma canção. Todos usam roupas confortáveis sem combinações vaidosas entre as peças. Após cerca de meia hora, um sino no alto da colina anuncia a chegada dos peregrinos. O ‘Portal da Paz’, que segundo o Frei Shuamanim foi elevado à pedido de Maria, recepciona os peregrinos que buscam seus lugares nas cadeiras de plástico em volta da imagem da Virgem. O forte vento incessante no alto da colina fez a temperatura cair drasticamente no início da noite.
Peregrinos chegam à colina, onde Portal da Paz recepciona os visitantes (Foto: Samantha Silva / G1)Peregrinos chegam à colina, onde Portal da Paz recepciona os visitantes (Foto: Samantha Silva / G1)
Três fotógrafos e cinegrafistas profissionais já estão posicionados para a transmissão ao vivo da cerimônia pela internet. Um gerador fornece a energia necessária para as fortes luzes que iluminam o cenário. Para registrar a cerimônia, não foi permitido usar o flash da câmera para não atrapalhar a concentração dos peregrinos. Nos períodos de silêncio do grupo também não era permitido fotografar para o barulho da câmera não atrapalhar.
A cerimônia se inicia com uma canção executada por um grupo de músicos (violão, flauta e teclado são os instrumentos predominantes). Todos acompanham cantando junto. Após alguns minutos de silêncio, são lidas três cartas com mensagens de Maria reveladas aos videntes durante a manhã. Com linguagem bíblica, as cartas falam de pedidos de oração e revelações sobre algo grande que está para acontecer. Todas podem ser acessadas posteriormente na página na internet das aparições de Maria.
Os peregrinos então começam a rezar o Terço do Rosário, com Pai Nossos e Ave Marias em sequência. Enquanto isso, velas são acesas carregadas por todos os que estão no local, e quando o terço é terminado, faz-se um silêncio absoluto. Em determinado momento, os três videntes se ajoelham em frente à imagem e começam a sorrir como se estivessem recebendo a visita de Maria. Um por um, os videntes vão transmitindo a mensagem de Maria.  As que são ditas em espanhol, pelos dois videntes do Uruguai, são traduzidas para o português. Regina explica que, pela internet, a mensagem ainda é traduzida simultaneamente para o inglês.
A cerimônia é finalizada com um agradecimento à visita de Maria e uma música pedida pela santa, que é executada pelos músicos. Uma das peregrinas, Maria de Fátima, que foi chamada durante a aparição para ficar ao lado dos videntes, diz que sentiu um forte tremor quando estava lá. Ela segurava o filho, Enzo, de pouco mais de um ano no colo. Para ela, Maria a chamou para que apresentasse o filho dela à santa, já que na primeira aparição da Virgem em Carmo da Cachoeira, ela estava grávida do menino.
Os três videntes ao lado da mulher chamada à frente de Maria na cerimônia (Foto: Samantha Silva / G1)Os videntes ao lado da mulher chamada à frente de Maria na cerimônia (Foto: Samantha Silva / G1)
Os peregrinos, no geral, dizem sentir uma forte energia no lugar, uma paz interior e alguns chegam a ouvir passarinhos cantando, segundo explica Regina, na hora da aparição, mas a Virgem Maria só é vista pelos videntes. No final, todos descem pelo mesmo caminho de volta à comunidade.
Maria e sua mensagem
Somos recebidos pelos três videntes em um dos auditórios da Comunidade Figueira por volta das 21h30. O silêncio é absoluto no ambiente, já que todos já foram dormir no lugar. Com tom de voz suave e muitos decibéis abaixo do que costumamos falar no cotidiano, Frei Elías, Madre Shimani e Irmã Lucía tentam explicar sobre as visões que têm desde muito jovens da Virgem Maria.
Imagem de Maria em altar na Colina das Aparições (Foto: Samantha Silva / G1)Imagem de Maria em altar na Colina das Aparições
(Foto: Samantha Silva / G1)
Frei Elías é considerado o mais clarividente dos três monges. Nascido no Uruguai, hoje com 28 anos, ele conta que as visitas de Maria começaram quando ele tinha apenas cinco anos, o que o deixava muito assustado. Com o tempo, e tendo sido criado sob uma educação cristã, ele foi entendendo que a mulher que ele via era a Virgem Maria, mãe de Jesus.
Ele diz que, durante a aparição, tudo começa com a imagem do céu se abrindo e uma forte luz invadindo o local. Maria surge sempre vestida de branco e fala com ele como se ele estivesse conversando com qualquer pessoa. Em determinados momentos, ela mostra algumas cenas que ilustram suas mensagens mais objetivas para o mundo, que incluem temas como a modernidade, a situação entre as nações (como a guerra na Síria) e o aborto. Frei Elías explica que são como cenas de um filme que vão passando na frente dele.
Ele encontrou Madre Shimani em meados de 2006, no Uruguai. A madre, hoje com 56 anos, começou a ter visões de Maria em 1996. Segundo ela, seu contato com o mundo espiritual permitia que ela curasse pessoas doentes. Visões revelavam o que devia ser feito e ela passava a instrução para as pessoas. Ela se tornou uma espécie de orientadora do Frei Elías, que não sabia como lidar com as manifestações. As aparições públicas através dos dois videntes começaram durante um retiro que eles faziam na região de Paysandú, no Uruguai. Aparições públicas são aquelas anunciadas por Maria para serem presenciadas por toda a comunidade.
Peregrinos acendem velas durante cerimônia de aparição de Maria (Foto: Samantha Silva / G1)Peregrinos acendem velas durante cerimônia de aparição de Maria (Foto: Samantha Silva / G1)
Foi Madre Shimani que teve a visão da primeira aparição pública no Brasil na Comunidade Figueira e entrou em contato com Trigueirinho. Irmã Lucía, a mais nova entre os videntes, com 22 anos, é brasileira, e segundo ela, sempre viu coisas “estranhas”, mas tinha medo e rezava quando as via. A mãe dela, que fazia parte da Comunidade Figueira, levou ela para o lugar quando Lucía “sentiu o chamado”, nas palavras dela, para ter uma vida mais espiritual. As visões dela de Maria começaram na comunidade, e em 2010, ela foi chamada para se juntar aos dois videntes para as aparições públicas, que começaram no Brasil em Carmo da Cachoeira.
Para Madre Shimani, as aparições vêm anunciar um período apocalíptico da sociedade. “Coisas importantes já estão acontecendo. E tudo indica que se nós não mudarmos logo, algo vai acontecer”, diz. A madre compara o comportamento da sociedade como uma criança que cresce “mal criada” e precisa passar por um duro golpe da vida (como a morte de um pai), para mudar de vida. “A humanidade está à beira da total perdição, perda de valores, e não foi isso que Deus pensou para seus filhos”, completa.
Fiéis se dedicam a orar por transição da humanidade (Foto: Samantha Silva / G1)Fiéis se dedicam a orar por transição da
humanidade (Foto: Samantha Silva / G1)
Frei Shuamanim havia citado que a imagem de Maria manifestada aos videntes era a mesma citada no Apocalipse de João, na Bíblia, uma mulher vestida de sol, coroa de estrelas e a lua aos seus pés. Seria a face de Maria que anuncia um tempo de transição, em que é preciso uma decisão de mudança para que nada de pior aconteça.
Dentro deste raciocínio, os monges acreditam que o poder da oração pode mudar essa realidade, transformando a sociedade para que não cheguemos a um tempo crítico. “O maior poder que existe é o da oração. Deus, que é perfeito, criou uma ferramenta que qualquer ser humano pode usar, não criou um exercício espiritual complicado para alguns poucos, isso não seria de Deus, Ele criou a oração”, explica.
Ela cita como exemplo as aparições de Maria em Fátima. Segundo ela, por mais de um ano, os pastorinhos oraram e com isso conseguiram parar a guerra (Maria teria anunciado aos pastorinhos o fim da 1ª Guerra Mundial após um período de oração constante do grupo. As aparições em Fátima são reconhecidas pelo Vaticano). “Tudo começa com uma ideia, você tem a ideia e a partir disso você as executa, e esta ideia é criada em outro plano mental, que não é físico. Através da oração você cria pensamentos de luz, e essa luz dissolve os maus pensamentos no ar, para que nada disso [guerras] se concretize”, explica.
Frei Elías (à esq.), Madre Shimani (no centro) e Irmã Lucía (à dir.) (Foto: Samantha Silva / G1)Frei Elías (à esq.), Madre Shimani (no centro) e Irmã Lucía (à dir.) (Foto: Samantha Silva / G1)
Sobre as aparições públicas, Frei Shimani brinca com o fato de não ter acontecido nada de ‘sobrenatural’ no momento da aparição. “Você pôde perceber que aqui não teve nenhum fenômeno (risos). Graças a Deus não é preciso nenhuma manifestação rara, porque é tudo através do espírito. Quando algo acontece dentro de você, nada pode dizer que isso não existe, porque acontece em você, e ninguém pode tirar isso. Não é preciso videntes para isso”, continua, e finaliza declarando a missão do grupo através das orações indicadas por Maria. “Nós estamos dispostos a resgatar todos. É isso que estamos fazendo, não tem muito mistério.”

FONTE: g1.com

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